Os cursos de Psicologia e Enfermagem da Fatec Ivaiporã promoveram uma aula magna diferente, para marcar oficialmente a abertura do ano letivo de 2025. Uma roda de conversa foi realizada para debater a lei federal que entrou em vigor neste ano e proibiu o uso de celulares em sala de aula, com exceção ao uso pedagógico. Participaram da roda de conversa o médico psiquiatra Ângelo Landgraf, do município de Pitanga; o psicólogo Alessandro Aguiar de Paula, do município de Londrina; e o diretor da escola Sesc/Senac de Ivaiporã, Daniel Almeida. O debate foi mediado pela professora da Fatec, Mariana Sismeiro.
A coordenadora do curso de Psicologia da Fatec, Vanessa Gonçalves, comenta que a escolha do tema partiu justamente da proibição e das consequências que isso pode trazer aos adolescentes, especialmente porque está ocorrendo uma dificuldade de aceitação, e também da necessidade de compreensão dos impactos negativos que isso tem ocasionado na saúde mental dos alunos. “A ideia é que, além de conhecer os impactos, os acadêmicos também possam contribuir para amenizar os problemas ocasionados por esta dependência, pois, de certa forma, receberemos esses alunos em clínicas ou faremos o atendimento ambulatorial deles e precisamos compreender para fazer a intervenção adequada”, frisa.
A coordenadora destaca que está ocorrendo um período de adaptação à nova lei e os alunos tinham uma ideia que vinha, ainda da época da pandemia, do uso do celular em sala de aula e a participação do profissional de psicologia é fundamental para fazer o acolhimento e as intervenções necessárias visando à melhoria do impacto ao aluno.
A coordenadora de Enfermagem, Tatiane Borzuk, comenta que o profissional de Enfermagem também precisa conhecer o tema, pois existem casos em que a abstinência do uso do celular por levar uma criança ou adolescente a uma crise e necessidade de atendimento médico e ambulatorial. “Se esse aluno, por ventura, precisar passar por uma situação de emergência, o profissional de enfermagem tem que saber fazer a abordagem correta e o encaminhamento adequado, seja para o Samu ou médico especializado, para que o atendimento seja realizado de forma humanizada e com excelência”, cita a coordenadora.
Excesso de uso do celular pode causar dependência em crianças e adolescentes
O tempo excessivo que crianças e adolescentes ficam vidrados nas telas de celular pode gerar uma dependência e a retirada abrupta pode causar consequências que necessitam, inclusive, de medicação. O psiquiatra Ângelo Landgraf comenta que, em algumas situações, é necessário o início de um tratamento em função das consequências do uso excessivo e exagerado do celular e, eventualmente, até mesmo com uso de medicamentos. “O celular é uma ferramenta extremamente poderosa, mas se não for usada da melhor maneira causa prejuízos às crianças e adolescentes, especialmente se o uso for indiscriminado”, avalia. Ele explica que o celular pode causar sintomas de ansiedade e uma frustração em adolescentes, especialmente pelo que eles consomem ao acessar as redes sociais. “Nem sempre aquilo que a criança vê nas redes corresponde à realidade e ela pode ficar frustrada, pois não vive a realidade vista nas redes sociais e isso pode potencializar os transtornos de ansiedade, depressão e, por isso, eu vejo que a proibição nas escolas é algo positivo, mas é um desafio para os profissionais que lidam com os adolescentes e precisam cumprir a determinação”, frisa.
A orientação que o médico faz às famílias é que estabeleçam limites, especialmente em crianças maiores e adolescentes. “É importante que eles tenham acesso a esse mecanismo, mas de forma limitada, pois a partir de certa idade fica difícil o controle; os pais também devem monitorar o que os filhos estão vendo e a quantidade de acesso que estão tendo”, relata.
O psicólogo Alessandro Aguiar de Paula comenta que em seu consultório, em Londrina, têm surgido vários casos de TDH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), principalmente em adolescentes. São casos de jovens que têm dificuldade em manter o foco e muitos casos de irritabilidade. “No contexto da escola, temos percebido as dificuldades de os jovens conviverem de maneira adequada; eles não conseguem mais resolver os conflitos por meio do diálogo e a da conversa e acabam se agredindo”, ressalta.
O longo período em frente às telas tem feito com que os jovens não tenham mais momentos de lazer e isso sobrecarrega outras situações complicadas. “Como profissionais da área da saúde, precisamos amenizar esse sofrimento psíquico e ajudar no desenvolvimento pessoal e emocional desse paciente”, frisa.
O diretor do Colégio Sesc/Senac de Ivaiporã e acadêmico de Psicologia, Daniel Almeida, comenta que a maior dificuldade é mostrar aos alunos o motivo da proibição. “A tecnologia é uma aliada no processo educacional, mas, ao mesmo tempo, o celular também tem é um fator de distração que prejudica o aprendizado”, salienta. Ele destaca, no entanto, que a proibição só vai funcionar se tiver uma forte parceria entre a escola e a família. “Os pais precisam ajudar nesse controle e precisamos de um processo de conscientização sobre como o uso indiscriminado que pode ser prejudicial ao desenvolvimento social e cognitivo dos adolescentes”, salienta.